História

Breve História do Povo Judeu

Baseado no texto de Isaac S. Algazi e na tradução de Ruth Iusim

Disse Heinrich Gräetz que são dois os povos criadores da civilização humana: o helênico e o hebreu*. O povo helênico sucumbiu “quando as falanges macedônicas e as legiões romanas lhe mostraram a vida sombria, grave e sem sorrisos, como a que haviam conhecido; então sua sabedoria transformou-se em excentricidade”. O hebreu, ao contrário, permaneceu vivo em meio a impérios que se extinguiam, porque soube dar à vida um fim determinado e ponderado. Querendo, pode-se chamar a este objetivo do povo israelita “a moral pura” e, ainda que a palavra esteja muito aquém da ideia, o que interessa destacar é que o povo judeu entendeu que seu dever é tomar a sério essa “moral pura”.
* O autor deve estar se referindo à civilização ocidental; mesmo assim a afirmação desconsidera outros povos importantes. (Gräetz, historiador de origem judaica)
Para que se possa compreender isto, é necessário conhecer, ainda que sumariamente, a história do povo de Israel. Portanto, daremos uma síntese dos acontecimentos pelos quais passou o povo judeu, desde os tempos mais remotos.
Corria o ano 2140 (a.e.C.), ou seja, há mais de 4.100 anos atrás. Um homem inspirado chamado Abraão, habitante da alta Mesopotâmia, recebeu de Deus a ordem de abandonar sua cidade natal e estabelecer-se num país que lhe seria designado, fundando ali um povo que seria cumulado de favores e objeto de especial predileção. Abraão estabeleceu-se com seus rebanhos no país de Canaã. Seu poder patriarcal passou a seu filho Isaac e deste para Jacob que depois o passou para seus doze filhos. Um destes, chamado José, vendido como escravo ao Faraó, rei do Egito, soube captar tal prestígio e autoridade, que chegou a ser vice-rei do Egito. Nesta qualidade chamou seus irmãos e lhes entregou a terra de Goshen para que a cultivassem e vivessem de seus produtos. Os israelitas tornaram-se tão numerosos e fortes, que os reis do Egito, temerosos de sua importância, os submeteram a dura escravidão, acabando por decretar a morte de todos os filhos varões que nasceram naquele povo. Porém Moisés, um desses meninos, jogado às águas do Nilo, foi salvo pela filha do Faraó e educado na corte do rei. Mais tarde esse menino seria o libertador daquele povo e seu legislador. Efetivamente, por decreto divino, Moisés organizou o grande êxodo dos israelitas, que segundo a Bíblia foi de 600.000 homens. Em busca da Terra Prometida atravessaram o golfo ocidental do Mar Vermelho e passaram 40 anos no deserto experimentando todas as dificuldades da vida nômade. Ao pé do Monte Sinai, Moisés deu aos israelitas o Decálogo, ou seja, os Dez Mandamentos, supremo código moral da humanidade.
Antes de morrer, Moisés nomeou como seu sucessor Josué, o qual, depois de atravessar o Jordão e derrotar os inimigos que se opunham à sua marcha vitoriosa, distribuiu as terras conquistadas entre as doze tribos. Josué foi sucedido pelos Juízes, entre os quais Jefté, Sansão e Débora, que nos legou um canto lírico (+) de grande magnitude. O último dos juízes foi Samuel, que a pedido do povo, mudou a forma de governo e instituiu a monarquia, nomeando Saul como primeiro rei. Morto Saul, entre vitórias e derrotas, foi David ungido como rei e a este sucedeu seu filho Salomão, o qual levou o país ao cume da felicidade e causou a admiração de todo o Oriente e Ocidente por seu saber e sua sagacidade.
(+) Juízes, 5
Após a morte de Salomão, seu reino foi dividido entre Roboão, seu filho, e Jeroboão, seu adversário; o primeiro contava com duas tribos e o segundo com dez, tendo havido entre eles uma luta constante. As nações vizinhas aproveitaram-se desta discórdia para sua própria expansão e o povo de Israel perdeu assim o caráter específico que lhe havia assegurado o rei Salomão.
Depois de uns poucos anos de reinado, Roboão foi vencido, primeiro por Sisac, rei do Egito, que tomou Jerusalém e se apoderou do Templo e dos tesouros reais, e segundo por Nabucodonosor, rei da Babilônia.
Pelo trono de Israel desfilaram então alguns reis indignos como Ahab, Joram, Jezebel e Atalia. Todos estes acontecimentos foram prelúdios da grande derrota que sofreu o povo hebreu ao cair em mãos de Senaquerib e Salmanasar, que o levaram cativo para a Assíria. Começou assim o grande êxodo; os judeus choraram, se desesperaram, procuraram consolo nas palavras dos profetas, e o judaísmo ampliou seu campo. Já não era a religião do pequeno povo que vivia à margem do Jordão. O Deus dos filhos de Israel, a quem estes haviam atraiçoado e por isso sofriam o exílio, passou a ser, de Deus de um povo dolorido e prostrado, o Deus de toda a humanidade. Os exilados haviam rompido o círculo do nacionalismo e acercavam-se do universalismo; e quando por fim Ciro, destruído já o império assírio, permitiu aos desterrados que voltassem a seu país, Esdras e Nehemias trabalharam para formar novamente um povo, ao qual proporcionaram uma moral mais elevada que a anterior.
A parte do território onde o povo se estabeleceu foi chamada Judéia e seus moradores receberam o nome de judeus. Povoaram novamente as cidades e obtiveram permissão para reconstruir o Templo e as muralhas de Jerusalém. A forma de governo daquele novo Estado foi uma espécie de república teocrática. O povo vivia tranqüilamente, refazendo-se do abatimento de que havia sido vítima durante os anos de cativeiro na Babilônia. No tempo dos selêucidas, sírios de forte influência cultural helênica, o povo judeu sofreu muito novamente, pois estes soberanos o sobrecarregavam de impostos e o perseguiram por sua religião.
Antíoco Epífânio mandou erigir uma estátua de Júpiter Olímpico no meio do Templo e fez morrer muitos judeus que não quiseram abjurar de suas crenças ante essa divindade. Surgiu então uma família cujos membros uniam a um grande talento militar, notórios dotes de governantes. Foram os macabeus. O primeiro deles que resistiu aos decretos de Antíoco foi Matatías, que matou um oficial e por isso viu-se obrigado a fugir para as montanhas seguido de um punhado de valentes. Seu filho Iehuda, o Macabeu venceu os sírios em diversos encontros; entrou vencedor em Jerusalém e restabeleceu o culto divino. Após a morte de Iehuda, seus irmãos Jonatan e Simão continuaram sua obra, lutando pela liberdade de sua pátria, até obrigar Antíoco a aceitar a paz.
O judaísmo saiu vitorioso de seu choque com o helenismo. Conhecia-se sob este nome a forma de civilização grega que, estando já a Grécia em decadência, foi difundida pelo mundo asiático e egípcio por Alexandre Magno e especialmente por seus sucessores. O helenismo difundiu-se também na Judéia, onde o sentido grego da vida, mais superficial e cheio da formosura da natureza, havia entusiasmado muitos judeus que, possuindo possivelmente tendências assimilacionistas muito desenvolvidas, haviam começado a sentir o peso de sua doutrina mãe, demasiado séria e de suas normas de vida muito severas.
Na Judéia o helenismo foi combatido com armas pelos macabeus e verbalmente pela obra incansável e contínua dos sábios, os quais, com o correr dos séculos foram substituindo os profetas. Enquanto os hassidim, isto é, os puros, os defensores dos hashmoneus, se afastavam da visa política, surgiu um novo partido, melhor dito uma nova seita: a dos saduceus. Estes, aferrados com vigor ao sentido literal do código sacerdotal da Torá, não prestaram atenção e rechaçaram a lei oral que ia se difundindo entre o povo por obra de outra seita: os fariseus. Os fariseus representaram na época hashmoneia e mais tarde na queda de Jerusalém o verdadeiro elemento salvador do judaísmo. Com efeito, estabeleceram uma doutrina intermediária entre a dos saduceus, rígidos sacerdotes que, apesar de seu sacerdócio dedicavam demasiado tempo à vida mundana, e a dos essênios, que com seu ascetismo e sua vida contemplativa se esqueciam da vida humana, de suas necessidades e suas desditas. Os fariseus, por seguirem a lei oral, foram os iniciadores do vastíssimo trabalho que se conhece com o nome de Mishná.
E enquanto os doutos sábios trabalhavam pelo desenvolvimento da moral do povo, a política ia piorando de dia a dia. Uma espada mais pesada e mais forte que a dos gregos, a de Roma, havia chegado ao Oriente. Os judeus, com suas lutas religioso-filosóficas e com seu Deus, muito acima dos do Panteão Romano, molestavam os imperadores que viam neles uma causa perene de tumultos.
E começou a guerra judaica.
Durante anos luta seguiu e por muitos meses foram sitiados Jerusalém e seu santuário; e no ano 70 (e.C.) o imperador Tito conseguiu entrar na cidade: incendiou o templo, assassinou e vendeu a maior parte de seus habitantes, começando assim para o judeu o exílio que durou 2 mil anos.
Parte dos judeus imigrou para as regiões asiáticas; outros fixaram sua residência no ocidente, enquanto os judeus de Alexandria, os já helenizados, continuaram vivendo no mesmo ambiente e desenvolvendo sua cultura à sua maneira.
Enquanto os exilados procuravam salvação em diversas terras e se preocupavam com sua vida e seu trabalho, na Judéia, cognominada de Palestina pelos romanos, continuava-se vivendo sob certa autonomia. Na escola de Iavne, onde o rabi Johanan ben Zacai havia salvo o judaísmo, formou-se uma academia e um tribunal supremo, cujo chefe chamava-se Nassí (príncipe), nos quais foram se desenvolvendo as ideias para a formação da Mishná primeiro, e do Talmude depois. Enquanto os sábios trabalhavam sem descanso para eternizar o judaísmo, os homens que em sua vida diária mal suportavam o jugo romano, encontraram um chefe e se rebelaram. Encabeçados por Bar-Kochba e apoiados pelo sábio Akiva, os judeus entregaram-se à luta. Lutaram com todo o vigor, com toda a força que imprime nos músculos a visão da liberdade que assoma nas consciências, mas a rebelião foi sufocada com grande derrame de sangue, morrendo ambos os chefes como mártires de uma ideia que não puderam chegar a converter em realidade.
Depois desta derrota adormeceu por séculos o alento patriótico do povo judeu. Cada um reclinou a cabeça e suportou sua desgraça limitando seu pensamento à vida diária, deixando a seus rabinos e sábios o cuidado da Torá e do judaísmo. Enquanto a falta de esperança, pior que o desespero, se apoderava de cada indivíduo, nas escolas da Palestina e da Babilônia os doutos, surdos aos apelos da vida, continuavam compilando os livros que representariam no correr dos séculos a salvação do judaísmo e do judeu. A Mishná, obra dos tanaístas, veio à luz no século II, enquanto os amoraítas trabalhavam na compilação do Talmude.
Foi, sobretudo, na Babilônia que os estudos alcançaram um desenvolvimento excepcional. Com efeito, na Mesopotâmia o número de judeus ia aumentando consideravelmente. As comunidades mais importantes, como as de Mahuza, Nehardea e Pumbedita, eram sede de distintas academias.
Nomeou-se um exilarca de procedência davídica como chefe do judaísmo babilônico. Mais tarde, a autoridade do exilarca foi diminuindo e os verdadeiros guias foram os gaons, chefes das distintas academias. Desta maneira a vida dos judeus transcorria num feliz desterro, dedicada ao desenvolvimento cultural, filosófico e moral.
Na diáspora romana, porém, as coisas não sucediam assim. No ano 350, ao subir Constantino ao trono, começou contra o povo judeu uma política de coação, atenuada no entanto nas regiões onde os judeus sujeitaram-se ao islamismo, pagando pesados tributos para poder desta forma dedicar-se tranqüilamente ao comércio, como em Bagdá, Cairo e toda a Espanha muçulmana.
Assim, no século IX houve comunidades judias no Cairo, Fez e Marrocos, enquanto na Babilônia, uma vez conquistada a Pérsia pelos muçulmanos, vinha ocorrendo o mesmo fenômeno. O povo judeu, portanto, pôde continuar seu desenvolvimento cultural somente nos países muçulmanos, onde tinha uma vida mais tranqüila, igual aos outros povos, e dedicar-se a qualquer tarefa ou ocupação.
Em troca, no mundo cristão, à medida que o cristianismo ia ganhando terreno no monopólio das fontes de riqueza dos países do Ocidente, ia a influência judaica pouco a pouco voltando ao estado de prostração em que esteve mergulhada nos últimos tempos do império romano. Os judeus não podiam ter autoridade alguma sobre os cristãos; eram afastados dos cargos públicos e eram privados dos direitos de cidadania quando implicava em algum cargo de autoridade, como ter escravos, servos e até criados domésticos.
Os cristãos deviam evitar todo contato social com os judeus, os quais deveriam ter uma marca ou distintivo em suas roupas ou em alguma parte visível do corpo.
Desta maneira, os antigos hebreus e agora os judeus que eram um povo essencialmente agrícola, sem aptidão especial e sem gosto pelo comércio, viram-se obrigados, na sua qualidade de estrangeiros numa população urbana e mercantil, a mudar suas características de vida. A partir da época feudal, especializaram-se cada vez mais no comércio e na medicina, que podiam exercer pois lhes eram vedadas todas as outras profissões. O judeu, por causa das leis canônicas, chegou a ser banqueiro por excelência, e “judeu” e “banqueiro” tornaram-se vocábulos sinônimos. Desta maneira foram criando tanto inimigos como credores e, ao despertar o espírito comercial quando a submissão às leis canônicas foi decaindo ante o imperativo da luta pela existência, o capitalista cristão perseguiu no judeu o competidor e detentor de um monopólio produtivo.
Na Espanha, onde os judeus já viviam desde o século III (e.C.), a população judaica aumentou notavelmente depois da batalha de Guadelete (711) como conseqüência da invasão dos árabes, provavelmente por ter ficado ali grande número de judeus que tinham vindo com os muçulmanos. A situação dos judeus melhorou, prosperaram e houve reis que tiveram médicos, astrônomos e músicos judeus. Chegaram a possuir terras, indústrias, faziam serviço militar sem qualquer restrição, iguais aos outros cidadãos e em certas jurisdições estavam no mesmo pé de igualdade com os fidalgos. Neste ambiente, os judeus começaram a desenvolver na Espanha uma atividade cultural que é tida como a “Idade de Ouro” da história judaica.
Durante três séculos o judaísmo floresceu em Granada, Córdoba, Sevilha, Saragosa, Barcelona, etc., dedicando-se seus integrantes a produzir obras literárias, dando início aos comentários sobre o Talmude, que tornaram mais fácil a procura de qualquer dado. Com a ascensão da ciência árabe, muitos judeus que também escreviam neste idioma começaram a ocupar-se da filosofia. A cultura hebraica deu seus melhores frutos naquela época. É desse período o sábio e venerado Maimônides. Os rabinos não tratavam apenas de obras religiosas, morais e filosóficas e sim de todos os temas e argumentos. Assim guiado, o judeu ampliou sua missão; o homem da sinagoga passou a ser homem do mundo, participava da vida pública, ajudava os monarcas árabes em suas empresas e em sua política e mais tarde auxiliou também os ingratos soberanos da Espanha a aumentar sua potência e a conquistar um império. A par disto, homens de ciência e audazes navegantes judeus colaboraram nas façanhas que levaram os portugueses para além do Cabo da Boa Esperança, até as Índias. Não obstante, os judeus não esqueceram sua antiga pátria; com exceção de alguns que voltavam para a Terra de Israel para ali terminar seus dias, os outros criaram raízes na Espanha, vivendo ali como em sua antiga terra. De Sefarad, nome hebreu da Espanha, derivou o nome sefaradim, como se fizeram chamar os judeus, pensando com isto conquistar sua tranqüilidade e seu lugar no mundo.
Mas não foi assim. Repentinamente estalou um movimento antijudeu e, numa quarta-feira de cinzas de março de 1391, uma multidão turbulenta irrompeu no bairro judeu da cidade de Sevilha. No dia 9 de junho, uma orgia de matança apoderou-se da cidade. Dali o tumulto popular propagou-se a Córdoba, onde morreram dois mil hebreus. Continuou avançando até Toledo, onde o populacho, em sinal de fé cristã, marcou para a matança de judeus o dia 17 de Tamuz (20 de junho), em cuja triste e vergonhosa jornada correram torrentes de sangue israelita pelas ruas da cidade imperial, sem perdão de idade ou sexo. Sucederam terríveis matanças em cerca de setenta comarcas. Poucos dias depois do massacre de Toledo, o povo de Valência desafogava seu fanatismo contra os judeus, esfaqueando os seus cinco mil e contagiando com seu furor as ilhas Baleares, em cuja capital, Maiorca, cometeu-se toda sorte de atropelos, prelúdio da trágica matança levada a cabo em Barcelona no dia 2 de agosto de 1391, na qual pereceram onze mil judeus.
A partir desta época, o judaísmo espanhol, cortado ao meio, arrastou uma vida apática até que recebeu o golpe mortal com a Inquisição, fundada na Espanha em 1480. No dia da conquista de Granada, assegurada graças ao apoio moral e material dos judeus e que coroava a unidade espanhola e o triunfo da cruz, os reis Fernando e Isabel, sob a influência de Torquemada, ordenaram a expulsão de todos os judeus do território espanhol (31 de março de 1492). De 500 a 600 mil infelizes, sem outra culpa a não ser permanecer fiéis à religião e a crença de seus pais, tomaram o caminho do desterro, sendo este novo êxodo acompanhado de terríveis sofrimentos e toda sorte de privações.
Em Portugal, os judeus levavam, até então, uma vida relativamente calma, mas como Manuel, rei de Portugal, estava em boas relações com Fernando, o católico, do qual iria tornar-se parente, e achando que em seu caráter de monarca absoluto não ficaria mal a política absolutista de seu colega, proibiu aos fugitivos da Espanha a entrada em seu reino. Muitos judeus da Espanha, assim como de Portugal, emigraram para países mais hospitaleiros como a Itália, Turquia, Holanda, etc.
Na Itália, devido talvez à sua política, como também pela persistência das tradições romanas e certa suavidade de costumes desse país, os judeus não sofreram grandes contrariedades nem tiveram que emigrar. Não tardaram a entrar no comércio e a ter negócios com outros países. Fugitivos da Espanha e de Portugal, os judeus tiveram acolhida em vários estados italianos; porém também ali a Inquisição acabou imediatamente com a liberdade que tinham e a maior parte daqueles infelizes teve que tomar novamente o caminho do desterro. Foi em Roma que a existência dos judeus sofreu misérias.
Na França, os judeus viveram de uma maneira diferente. Em sua maioria comerciantes, havia também entre eles tesoureiros fiscais, marítimos e médicos. Sob a dinastia dos Merovíngios começaram as perseguições. A situação melhorou bastante durante o período Carolíngio.
Com os Capetos a vida judaica tornou-se insuportável no norte da França. Apesar disso, surgiu um vulto dentro do judaísmo francês da Idade Média – Rashi (rabi Shlomo Itzhak) – em torno do qual se agruparam muitos discípulos. Nos fins do século XII os judeus foram expulsos da França, mas continuaram vivendo ali, mesmo sofrendo, até o século XIV.
Melhor era sua situação no sul da França, em Provença. Por isso puderam dedicar-se aos estudos e criaram escolas famosas, cultivando a filologia, a medicina, a filosofia e a poesia. Há notícias de judeus na Provença até fins do século XV. Desde então, até pouco antes da época de Napoleão, não existiu na França o problema judeu, porque não havia judeus.
Na Alemanha estabeleceram-se judeus desde tempos muito antigos. O primeiro documento de uma comunidade judaica na Colônia data do ano 321. Até a época dos últimos Carolíngios sua situação era muito boa. Floresceram escolas em Metz e Mogúncia, onde ensinou o célebre rabi Guershon ben Judá, chamado “Luz da Diáspora”. Quando começaram as Cruzadas e uma onda de fanatismo se apoderou dos homens, caiu sobre os judeus a espada de Damocles. Comunidades inteiras como as de Espira, Worms, Mogúncia e Colônia foram assassinadas. Mais tarde, ao estalar da Peste Negra, o cólera (1340-1351), mais de 340 comunidades foram quase que totalmente exterminadas, quando os judeus foram acusados de envenenar os poços de água.
Na Áustria-Hungria, a história do povo judeu apresenta vicissitudes mais complexas que em outras nações. Os reis magiares serviam-se dos judeus como preceptores, tesoureiros e administradores de suas fazendas e de seus investimentos industriais. Mesmo quando a Santa Sé romana interveio várias vezes para impedir estas relações, os soberanos voltaram atrás depois de haver acatado temporariamente as prescrições da cúria romana. os séculos XIV e XV foram nefastos para os judeus austríacos. Durante o tempo em que o cólera açoitou aquelas regiões, os judeus foram expulsos da Hungria e, ainda que os tenham chamado depois, não recobraram jamais seu primitivo prestígio, não puderam mais ter cargos públicos e foram obrigados a usar um capuz como distintivo de sua religião. Em 1386, foram vítimas de ultrajes horrorosos em Praga e outras cidades. A situação moral e material dos judeus da Áustria e Hungria melhorou, todavia, graças aos esforços de Mordechai Meisel, o primeiro milionário alemão, e de Lipman Heller, rabino de Viena.
Na Europa oriental, os judeus haviam se estabelecido desde a destruição do primeiro Templo. Na Polônia, eles chegaram por volta do século IX, procedentes da Alemanha e Boemia. Ali gozavam de uma hospitalidade liberal, crescendo notavelmente a população judaica durante os dois séculos seguintes.
O duque de Kalisz e de Guesen, assim como Casimiro, o Grande, outorgaram-lhes uma liberdade ilimitada no comércio. Os judeus poloneses tinham por inimigos o clero e os negociantes alemães, e, na Ucrânia e na Rússia Europeia, além dos já citados, tinham como inimigos os cossacos de rito grego, oprimidos pelos ricos da Polônia, cujos intendentes eram judeus. O judaísmo desapareceu da Ucrânia e, nas outras regiões, sofreu muito em virtude das prolongadas guerras entre russos, suecos e polacos.
Na Criméia e na costa do Mar Negro existiam algumas comunidades antes da era cristã; para lá se dirigiram muitos judeus, depois da destruição do Templo. Assim difundiu-se o judaísmo nesses lugares e, devido à sua influência, registrou-se a conversão do rei dos cazares no ano 740 (e.C.). Muitos judeus do império bizantino foram para lá mas, quando o reino cazar ou cuzarí foi destruído (969), eles emigraram para a Rússia, onde, até o século XV, parece que levaram uma vida bastante tranqüila.
Na Inglaterra havia judeus desde o século VII (e.C.), mas notícias exatas só há a partir do século XI. Até o século XII a situação foi bastante boa, mas sob o reinado de Ricardo Coração de Leão começou em Londres e noutras localidades uma série de perseguições que se agravaram durante o reinado de João sem Terra. No ano de 1264 houve uma verdadeira matança e, por um decreto do ano de 1290, os judeus foram expulsos da Inglaterra, encontrando refúgio em Flandres, França, Alemanha e Espanha setentrional. Só puderam retornar no período de Oliver Cromwell, quase quatro séculos mais tarde.
Os judeus da Ásia e da África que viviam nos países muçulmanos puderam gozar de certa tranqüilidade durante um determinado período de tempo. Porém, depois da batalha de Rodas (624), começaram nos territórios muçulmanos graves perseguições. Omar expulsou-os da península arábica, admitindo-os novamente mais tarde.
Sob o domínio árabe, foi muito importante o desenvolvimento do judaísmo egípcio, sobretudo em Fostat, antigo nome do Cairo, capital do Egito.
Também em outras localidades da África setentrional foram-se formando comunidades judaicas muito importantes.
A descrição da situação do judaísmo nos principais estados europeus até fins da Idade Média é suficiente para se ter uma ideia de sua verdadeira orientação político-social.
Os judeus, que sob certos aspectos são considerados como um dos povos que tem vivido mais recolhido dentro de si mesmo e que, apesar das perseguições, conservaram incólume sua doutrina, viveram durante os tempos medievais e uma parte da idade moderna encerrados numa espécie de “círculo de ferro” chamado gueto.
A Reforma, a partir de 1517, num primeiro momento foi favorável aos judeus, pois o protestantismo modificou em parte a psicologia da época ao promover um maior interesse pelos estudos bíblicos, contribuindo assim para fazer luz sobre o passado e afirmando que a fé repousava sobre o Antigo Testamento. Observam alguns autores que Lutero com isso esperava poder converter os judeus para sua nova igreja. Depois de duas décadas, entretanto, vendo que não tinha conseguido seu intento, ele mudou de tática e passou a atacá-los violentamente. Vieram então os dias amargos pelos quais os fez passar o fundador do protestantismo. Ele tornou-lhes a vida extremamente sombria com seus escritos e suas publicações nos quais pregava que os judeus deviam ser mortos queimados ateando-se fogo às sinagogas enquanto rezavam. Quinhentos e poucos anos mais tarde, essas pregações foram utilizadas pelos nazistas para embasar sua tentativa de extermínio do povo judeu.
Os judeus voltaram à França no século XVI com a anexação da Alsácia e Lorena e com a formação de colônias de Anussim (judeus convertidos ao cristianismo à força) na França meridional. A Revolução os encontrou na guarda nacional. A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, ao estabelecer o princípio de liberdade religiosa e de igualdade, produziu praticamente a emancipação dos judeus. Napoleão, apoiando este movimento nos anos de 1806-1807, convocou em Paris o grande Sanedrim.
Apesar da ótima situação judeu-francesa e apesar de ter sido a França a primeira a proclamar a liberdade dos judeus, ainda assim não pôde o francês eximir-se do antissemitismo. Um exemplo disto foi o célebre processo André Dreyfuss, que comoveu o mundo inteiro e desencadeou, ao terminar seu julgamento, uma verdadeira onda anti-semita. Este episódio teve sua repercussão, nos últimos tempos, manifestada na atitude do governo de Vichy para com os judeus, desde o colapso da França em 1940. Há quem acredite que com esta atitude, o marechal Pétain quis desforrar-se da afronta que o militarismo francês sofreu com a reabilitação do capitão Dreyfuss.
Mas o caso Dreyfuss também foi um dos fatores que ajudaram a catalisar o surgimento do Sionismo, idealizado por Theodor Herzl, um médico austríaco que se tornou escritor e jornalista e foi escalado pelo jornal em que trabalhava para cobrir o caso do capitão judeu francês acusado de alta traição e que mais tarde se revelou um dos maiores erros judiciários da História. A seqüência do julgamento e suas conseqüências levaram Herzl a escrever a obra “O Estado Judeu”, organizando suas ideias e lançando as bases do Sionismo moderno.
Apesar dessas convulsões no organismo social da França, os judeus franceses prosseguiram desenvolvendo sua vida e sua cultura, pois sempre o mundo olhava a França como um guia de liberdade e fraternidade. Mas a França também tinha suas contradições. Voltaire, pensador que se desfez das amarras e dos preconceitos medievais, foi um anti-semita visceral. Já no século passado, por exemplo, figuravam no parlamento seis deputados e três senadores judeus. Nas esferas intelectuais francesas contava-se com várias personalidades proeminentes que gozavam de fama positiva. Esta era a situação francesa na época da invasão alemã em 1940.
Na Itália, na idade moderna, aos judeus ali já residentes foram-se agregando muitos exilados da Espanha, Portugal, Alemanha e França. Os da Espanha estabeleceram-se primeiramente na Itália meridional, donde foram expulsos por Carlos V, no ano de 1541; os da França e da Alemanha instalaram-se na Itália setentrional, no Estado pontifício. Até a época da Reforma, as condições de vida foram boas, porém, com a contra-reforma, os judeus voltaram a ser atacados.
Júlio III proibiu o estudo do Talmude. Os judeus foram encerrados em guetos, excluídos de suas profissões e finalmente, em 1569, expulsos de todas as cidades, menos Roma e Ancona. Em Toscana, Mântua, Ferrara e Veneza a situação era muito melhor. Na primeira destas cidades, por obra dos judeus e anussim imigrados da Espanha, surgiu a comunidade de Liorna.
Estas situações permaneceram quase inalteráveis até a Revolução Francesa. No ano de 1848, começou a emancipação dos judeus em certas localidades e a mesma sorte tiveram os que foram se agregando ao reino da Itália, gozando assim estas comunidades judias de uma das melhores situações na Europa.
Nunca estalou ali um movimento anti-semita e os judeus puderam ocupar posições destacadas tanto no terreno político como no cultural. Muitíssimos foram os professores universitários, os homens de ciência e os políticos. Contudo, também a Itália, desde o ano de 1938, foi envolvida na onda racial anti-semita.
Na Alemanha e na Áustria a época moderna caracteriza-se, no início, por uma grande tranqüilidade para os judeus. Em Hamburgo, no século XVI, os anussim puderam constituir uma comunidade importante; e em fins do século XVIII, também na Alemanha, começou o movimento de emancipação conseguida na Áustria nos anos de 1869-70.
Mas o alemão carrega em si, desde séculos, o ódio ao judeu. Nos tempos medievais ele matava em nome da cruz; depois, com a ascensão do nazismo extermina em nome de um mito racial. O fato é que sempre na Alemanha havia sede de sangue judeu e se procura na história uma causa para derramá-lo. E é por isso que, apesar da emancipação, ainda que o judeu alemão haja dado à sua nova pátria o melhor de si mesmo e sua maior glória com homens como Herzl, Ehrlich, Einstein e Freud, o alemão não pode eximir-se de seu antissemitismo. A vida judaica na Alemanha e na Áustria nunca teve o alento liberal que se podia respirar na França, na Itália, na Inglaterra e na América. A emancipação foi praticamente uma palavra, nunca um feito; tudo o que aconteceu na Alemanha desde 1933, e nos países dominados pelos nazis, não foi mais que uma conseqüência atávica do ódio profundamente arraigado nos corações teutônicos.
Na Holanda, depois da expulsão da Espanha, foram-se formando distintas comunidades judaicas, entre as quais celebrizou-se a de Amsterdã. Sua situação ali foi sempre boa, conseguindo-se logo a emancipação. Até a invasão nazista em 1940 continuaram gozando de todos os seus direitos.
Na Inglaterra os judeus foram admitidos novamente por Oliver Cromwell no ano 1657, graças à intervenção de Menasche Ben Israel. Em 1685, um decreto de Jacobo II declarava livre o culto hebreu e o exercício de suas práticas religiosas. Em 1701, edificava-se em Londres a primeira sinagoga. Os judeus que imigraram para a Inglaterra eram em parte sefaradim procedentes de Espanha e Portugal e em parte ashkenazim procedentes da Alemanha. Também aí a emancipação foi bem acolhida e, desde a segunda metade do século XIX, a Inglaterra foi um dos países onde os judeus encontraram melhores condições de vida e desenvolveram suas atividades tanto no terreno político como no cultural. Não se deve olvidar que o insigne ministro inglês Lord Beaconsfield, Benjamim Disraeli, foi judeu, e que o grande químico que salvou a Inglaterra das dificuldades da falta de combustíveis na guerra mundial de 1914-18 foi também judeu, o dr. Chaim Weizman, que seria mais tarde o primeiro presidente do Estado de Israel.
Na Polônia, nos séculos XVI e XVII, a população judia aumentou notavelmente, chegando a seu máximo esplendor econômico, intelectual e espiritual. O judaísmo sefaradi parecia ter-se reduzido na vida difícil do desterro, mas a luz judaica não está destinada a apagar-se. Na Europa oriental e central, os chamados ashkenazim de Ashkenaz, isto é, Alemanha – recolheram a luz de seus irmãos da Espanha e iniciaram um importante trabalho intelectual.
Mais aferrados à tradição e à religião, seus movimentos foram mais religiosos que culturais. Por causa das perseguições e dos sofrimentos, difundiu-se entre eles a crença da chegada imediata do Messias. Shabetai Tzvi, aproveitando vantagens momentâneas, entusiasmou, para logo desiludir, as povoações judias da Europa central e oriental.
Quando este pensamento coletivo que fez brotar uma esperança salvadora apagou-se, a sonhada época messiânica e o falso messias tiveram seu fim como conseqüência da falta de lógica do pensamento que os gerou. Surgiu então outro movimento místico-religioso: o hassidismo. Foi iniciado por Israel Baal Shem Tov; e a multidão deu-lhe prosseguimento e até nossos dias o hassidismo continua vivendo entre os judeus da Europa Oriental.
Com o século XVII terminou a vida tranqüila dos judeus na Polônia, iniciando-se as perseguições, a matança e a escravidão moral. Sua condição na Polônia e na Rússia, apesar de todas as emancipações, continuou sendo a mais triste de todas; por isso o judeu polonês sempre considerou a emigração como o único meio de salvação. Depois da 1ª Guerra Mundial, a situação foi aparentemente melhorada em virtude da ação de Pilsudsky. Hoje é muito doloroso falar dos judeus da Polônia, dizimados pelos nazistas.
Na Rússia, ao modificar-se em 1742 a lei que proibia aos judeus viver em território russo, começou a imigração para lá e em 1804 obtiveram os judeus algumas concessões, sendo, porém confinados em determinadas regiões. Em 1840 o Conselho de Estado adotou um processo para melhorar a situação judaica, mas em 1843, imputando aos judeus o exercício de contrabando, obrigaram-nos a residir em cidades distantes 60 quilômetros da fronteira. Em 1874 foi promulgada a lei de serviço militar obrigatório; mas o antissemitismo muito difundido produziu os tristemente célebres progroms (assaltos seguidos de pilhagens, violência e massacres), sendo particularmente grave o de Kishinev. Pela melhora relativa em suas condições diárias de vida, os judeus puderam desenvolver sua vida intelectual. Muitos são os homens de letras judeu-russos que enriqueceram nossa literatura com suas obras. Durante a revolução, os judeus obtiveram todos os direitos e o antissemitismo foi considerado pelo governo dos sovietes como um grave delito. É claro que a religião foi perseguida, assim como outras religiões, e o judeu russo não sentiu diferença alguma do russo ortodoxo neste sentido; isto significa que três milhões de judeus ficaram totalmente isolados do judaísmo. Houve uma tentativa, fracassada, de Stálin criar uma república soviética judaica, um território autônomo que levou o nome de Birodidjão, no extremo oriente russo, numa terra inóspita entre a China e o mar do Japão.
Na Romênia, a população judia aumentou muito no século XVII devido às imigrações procedentes da Polônia e da Rússia. A emancipação teve ali muito pouco êxito e, na realidade, a Romênia foi a única nação cristã onde a tolerância religiosa não encontrou guarida.
Persiste ali, de certo modo, a influência da dominação russa, que infiltrou superstições no povo. Ainda que a lei proteja todos os cultos, os judeus tinham seus templos e um deles, a sinagoga de Bucareste, seja notável como monumento, a predominância religiosa atual do país é a ortodoxia grega. Durante a 2ª Guerra Mundial os romenos encontram no nazismo um impulso para a perseguição aos judeus.
Na Turquia, os judeus expulsos da Espanha foram bem acolhidos e sempre viveram bem ali. As comunidades fundadas em Constantinopla, Esmirna e Salônica floresceram cada vez mais. No século XVII os judeus do império turco tomaram parte no movimento messiânico de Shabetai Tzvi. Em geral, a vida dos judeus turcos foi tranqüila até o início da 2ª Guerra Mundial
Na América, o judaísmo começou com a chegada dos primeiros judeus da Espanha que vieram em companhia de Colombo. Desde então foi aumentando a imigração judaica para as Américas. Em 1665 constituiu-se em Nova Iorque (então Nova Amsterdã) a primeira comunidade israelita, fundada por parte dos judeus que deixaram Recife, no Brasil, onde viviam bem até que os holandeses foram expulsos e a Companhia das Índias Ocidentais perdeu o território que ocupava em Pernambuco. Em 1790 a Constituição dos Estados Unidos estabeleceu a liberdade de religiões e, mais tarde, em princípios do século XIX, a igualdade de direitos. A imigração da Europa Oriental aumentou depois que o Barão Maurício Hirsch (1831-93) fundou a Jewish Colonization Association (JCA) que estabeleceu colônias na Argentina para os perseguidos da Rússia e da Polônia.
Na realidade, pode-se afirmar que a condição dos judeus em toda a América do Norte desde então tem sido a melhor do mundo.
Em novembro de 1947 a Organização das Nações Unidas (ONU) votou pela partilha da Palestina para a criação de dois países, um para os judeus e outro para os árabes palestinos .E em maio de 1948, após dois mil anos de espera pelos judeus, David Ben Gurion proclamou a independência do Estado de Israel.

Personalidades

Personalidades

Chaim Weizmann (1874 – 1952) foi um líder Sionista, presidente da Organização Sionista e o primeiro presidente do Estado de Israel. Weizmann era químico de profissão e foi o fundador do Instituto Weizmann de Ciência em Rehovot, Israel.
Weizmann lecionou em diversas universidades europeias, dentre as quais, a Universidade de Genebra e a Universidade de Manchester. Ele é considerado o pai da fermentação industrial, além de outros trabalhos na área química.

 

David Ben-Gurion (1886 – 1973) foi o primeiro Primeiro Ministro de Israel. Ben Gurion teve papel fundamental na fundação do moderno Estado de Israel. Após liderar o país na vitória da Guerra da Independência (1948) travada contra os países árabes, Ben Gurion ajudou na consolidação das instituições nacionais e supervisionou o processo de absorção de milhares de judeus de diversas partes do mundo.
Em 14 de maio de 1948, no último dia do Mandato Britânico, David Ben-Gurion declarou a independência do Estado de Israel. Na declaração, ele afirmou que a nova nação iria “defender a plena igualdade social e política de todos os cidadãos, sem distinção de religião, raça ou sexo.”
Ben-Gurion foi um grande visionário para as questões hídircas em Israel e entendia que o povo judeu poderia contribuir para mitigar os efeitos da falta de água no mundo. Ele foi um dos pioneiros nos esforços de povoar e fazer florecer o deserto do Negev, ao sul de Israel, onde fixou residência nos derradeiros momentos de sua vida.

 

Menachem Mendel Schneerson (1902 – 1994) também conhecido como O Rebe, é o Sétimo Rebe do movimento Chabad Lubavitch. – Em construção.

 

Osvaldo Aranha (1894 – 1960) foi um político e diplomata brasileiro. Durante a Segunda Guerra Mundial, Aranha teve papel fundamental na aproximação com os Estados Unidos, combatendo politicamente aqueles que eram favoráveis a uma aliança com a Alemanha nazista e os demais países do Eixo. Em 1947, Osvaldo Aranha chefiou a delegação brasileira na recém-criada Organização das Nações Unidas. Na ONU, Aranha presidiu a II Assembleia Geral que votou o Plano da ONU para a partição da Palestina de 1947, que culminou na criação do moderno Estado de Israel. Por essa sua atuação, Osvaldo Aranha foi homenageado emprestando seu nome a uma rua em Tel Aviv, Israel.

 

Theodor Herzl (1860 – 1904) foi um jornalista Austro-Húngaro e pai do Sionismo político moderno. Nascido em Praga, Herzl era de uma família judia assimilada originária de Belgrado, Sérvia. Ele era o segundo filho de Janette e Jakob Herzl.
Em 1895, Herzl escreveu O Estado Judeu, um livreto inicialmente publicado na Alemanha e na Áustria. Em seu livro, Theodor Herzl preconizou a visão da criação de um estado judeu como solução para a perseguição aos judeus na Europa.
Herzl levou adiante sua ideologia por meio de diversas ações diplomáticas na Europa, inclusive com a criação do Congresso Sionista.
No entanto, Herzl não viveu para ver a concretização de seu sonho. Faleceu no dia 3 de Julho de 1904, na Áustria. Em 1948, seus restos mortais foram transportados de Viena para o Monte Herzl, em Jerusalém.

Holocausto

Holocausto I

Por: Giulio Sanmartini
A palavra holocausto, de origem grega, significando “queimado inteiramente”, passou a designar, depois da Segunda Guerra Mundial, o massacre de judeus nos campos de concentração nazistas. O mês de janeiro (27), marcou os 60 anos da liberação do pior desses campos: Auschwitz.
A primeira manifestação de antissemitismo, que me vem à lembrança, apesar de na época desconhecer a palavra e o fato, aconteceu quanto tinha 8 anos e estudava no Colégio Salesiano do Rio de Janeiro. Durante o recreio, não sei por qual motivo xinguei um colega de filho da p…, o padre conselheiro me pegou em flagrante e fui levado a seu gabinete. Para me justificar contei-lhe que o outro havia me xingado antes, o padre sem se abalar me deu um conselho: — Quando tiver que xingar alguém, chame-o de judeu.
Depois, durante minha adolescência fui para um colégio laico onde estudantes de todas as religiões misturavam-se; mais tarde um pouco, tive até uma namorada judia, mas aí a coisa era ao contrário, tínhamos que fazê-lo escondido, pois sua família não poderia saber que ela tivesse ligação afetiva com um “gentio” (aquele que não professa a religião judaica).
Durante os 50 anos que morei no Brasil, jamais senti no povo um espírito antissemita, mas aqui na Europa a coisa mudou. Penso que seja algo, injustificável, mas histórico. Os hebreus sempre foram tidos pela Igreja Católica como deicidas e discriminados; o primeiro documento antissemita data da segunda metade do século VII, durante a dominação longobarda (população germânica), no que fora o Império Romano do Ocidente. O rei Pertarito, católico fanático e com tal intensidade antissemita, converteu pela força, todos os hebreus, ao cristianismo. A coisa foi se espalhando pelos séculos como uma mancha de óleo; o grande assassinato de hebreus, acusados de responsáveis pela Peste Negra, no século XIV; a “Santa” Inquisição dos séculos XVI e XVII; nos países eslavos os “pogroms”, palavra russa que pode ser traduzida como massacre, os hebreus eram massacrados e saqueados, pois lhes atribuíam a pobreza da população; até chegar-se à Solução Final nazista, que durante a Segunda Guerra matou mais de 6 milhões de judeus no horror do holocausto.
O antissemitismo na Europa está recomeçando prepotentemente. Sinagogas são queimadas na França, cemitérios hebreus são destruídos na Suécia, outro dia mesmo, um príncipe inglês, neto da Rainha, foi a uma festa fantasiado de nazista; um time de futebol holandês, ligado historicamente aos judeus, resolveu tirar qualquer sinal dessa religião para evitar ser vaiado pelos adversários. Conversando em um grupo de intelectuais belluneses, tive que ouvir de um deles, a seguinte imbecilidade: “Os judeus têm que parar com essa coisa de holocausto, já passou”.
Os europeus, agora movidos por um antiamericanismo irracional, associam o Estado de Israel com os Estados Unidos, nas manifestações com qualquer tipo de escopo. São queimadas as bandeiras dos dois países por pessoas, que para mostrar o antissemitismo usam o símbolo da OLP (Organização de Libertação da Palestina), o “kefiah” como lenço de pescoço, trata-se daquela cobertura de cabeça que caracterizou Yasser Arafat. Mas os piores de todos são os chamados “negativistas”, aqueles que negam a existência da “shoah”, (palavra hebraica que pode ser traduzida como catástrofe, que muitos preferem usar ao invés de holocausto). Afirmando que os campos de concentração e extermínio não existiram, que tudo foi propagado pela imprensa mundial nas mãos dos judeus.
Existem minorias religiosas em países onde o fundamentalismo está exacerbado. Pessoas suicidam-se “gloriosamente”, como bombas humanas, contanto que levem junto com elas os que professem outros credos.
Nós, seres humanos que nos julgamos civilizados, não podemos permitir que seja esquecido o extermínio de um povo por professar uma religião diferente daquela da maioria dos países onde viviam. No passado próximo foram os judeus da Europa, hoje não sabemos quem será.
Para que não seja esquecido o horror da “shoah”, vamos publicar uma série de artigos com depoimentos de pessoas que viveram o fato. O primeiro é de Oskar Grönig, hoje com 85 anos.
Os que negam Auschwitz ouçam-me, eu estava lá, mas do lado dos carcereiros.
Oskar Gröning entrou para a Juventude Hitlerista quando os nazistas chegaram ao poder em 1933. Estava convencido que ajudaria a Alemanha a livrar-se de culturas estranhas. Trabalhava há pouco tempo num banco quando começou a guerra, mas logo se alistou na SS (Schutz-Staffel em alemão, ou seja, departamento de defesa, a milícia armada do partido nazista). Dois anos depois foi designado para o campo de Auschwitz, seu trabalho era contar o dinheiro confiscado aos prisioneiros hebreus. Nessa época lhe disseram: “Nos livraremos dos judeus que não estejam aptos ao trabalho”. Continuou contando dinheiro, até que um companheiro o chamou para conhecer os fornos crematórios, onde divertia-se em ver que, quando os cadáveres começavam a queimar estremeciam no momento que o ar dos pulmões era expelido e que a parte sexual dos homens, tinham um improvisa ereção.
Oskar sentiu-se mal e foi até seu superior pedir transferência para as primeiras linhas de combate. Mas o pedido lhe foi negado e seu comandante fez-lhe ver que ele tinha jurado fidelidade, e que os hebreus eram os verdadeiros inimigos da Alemanha, concluindo: “Caro Gröning, o que você quer fazer? Estamos todos no mesmo barco. Empenhamo-nos em aceitar essa missão sem pensar”.
Em 1944 Gröning conseguiu sua transferência. Ferido em batalha, no ano seguinte rendeu-se às tropas inglesas. No questionário que lhe foi dado a preencher, omitiu ter trabalhado em Auschwitz. Hoje, ele tenta minimizar o fato com uma impressionante ingenuidade: “Os vencedores têm sempre razão, nós sabíamos que as coisas acontecidas em Auschwitz nem sempre estavam dentro das regras dos direitos humanos”.
Finda a guerra, organizou sua vida e seguiu normalmente. Interessante de se notar nesse fato, é que se pôde ter sido da SS, ter trabalhado em Auschwitz, ter sido testemunha do processo de extermínio, ter contribuído para a Solução Final, não foi considerado “culpado” pelo Estado alemão ocidental do após guerra.
Tudo teria ficado desconhecido não fosse um pequeno incidente. Oskar Gröning, ao aposentar-se se dedicou à filatelia, e um dia conversando com um conhecido que praticava o mesmo hobby, ouviu deste: “Não lhe parece terrível que o governo declare ilegal qualquer coisa que se diga contra a matança de milhões de judeus em Auschwitz”? Ele achava inconcebível que se pudessem queimar tantos corpos. Oskar ficou pasmado, mas nada disse. Procurou um jornalzinho “negacionista” que lhe havia sido indicado pelo tal amigo e escreveu um comentário irônico, enviando-o a este. A sua denúncia foi impressa em uma revista neonazista e ele começou a receber telefonemas e cartas ameaçadoras, de gente que queria demonstrar que Auschwitz era uma grande alucinação, porque jamais tinha acontecido.
Nem quero perguntar por que Oskar Gröning demorou tanto tempo para dizer aquilo que testemunhara e somente o fez por um motivo acidental, mas não há dúvida de uma coisa: o antissemitismo está bem vivo na Europa.
Texto de apoio
Laurence Rees – Chi nega Auschwitz mi ascolti… – Corriere della Sera – 13/1/2005.
PS: O próximo artigo tratara do depoimento de um soldado da Armada Vermelha Soviética, que estava entre os do primeiro grupo que chegou a Auschwitz.
* Giulio Sanmartini é natural de Belluno, Itália (1944). Emigrou para o Brasil em 1946 onde viveu até 1996, quando retornou a Belluno. Foi pesquisador (trabalhou com Antônio Houaiss e com o astrônomo Ronaldo Rogério de Freitas Mourão); historiador, membro dos institutos Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro e também do Rio Grande do Norte. Últimos livros publicados: Cidade do Rio de Janeiro, curiosidades na história de sua fundação (1998) e Casa de Bragança – Casa de Habsburgo, origem da Família Imperial Brasileira (1998). Ambos fazem parte do acervo da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos. Jornalista, atualmente colabora com o Observatório da Imprensa, Sanatório da Imprensa e Visão Judaica. É editor de Argumento (http://argumento.bigblogger.com.br/).
ONU estabelece o Dia Internacional em honra às vítimas do Holocausto
Será em 27 de janeiro, data de libertação de Auschwitz-Birkenau
No dia 27 de janeiro de 1945 o Exército soviético libertou o campo de Auschwitz-Birkenau e uma resolução da ONU, composta por 191 países-membros, vai preservar ativamente os cenários do horror, inclusive os campos de concentração, cemitérios, campos de trabalhos forçados e prisioneiros dos nazistas. Além disso, lançará as bases de um amplo programa educativo.
A Assembléia Geral das Nações Unidas adotou a resolução como o Dia da Recordação do Holocausto, e instou a todas as nações a desenvolverem as vias adequadas para manter viva a sua memória, de forma que as futuras gerações ajudem a prevenir similares atos de genocídio.
Introduzida por Israel e co-patrocinada pela maioria dos Estados membros, a resolução estabelece os Estados membros desenvolvam programas educativos que instruirão as futuras gerações sobre os horrores do genocídio, e condenem todas as manifestações de intolerância religiosa, incitação, ou violência contra as pessoas ou comunidades baseadas em sua origem ou crença étnica.
O presidente da Assembléia Geral da ONU, Jan Eliasson, destacou que a memória do Holocausto deve ser “uma advertência historicamente unificada; não somente recordar os graves crimes cometidos na história, mas também para reafirmar nossa reserva com o objetivo de prevenir a repetição de tais crimes”.
“Na qualidade de israelense, judeu, ser humano e filho de vítimas do Holocausto, sinto-me emocionado e privilegiado por presenciar a aprovação dessa histórica resolução hoje” – disse o embaixador de Israel junto à ONU, Dan Gillerman.
Ele assinalou que o Holocausto “nos colocou cara-a-cara com toda a capacidade do homem de ser desumano com seus semelhantes” e que serviu como um “impulso crítico” para o desenvolvimento dos direitos humanos, o rascunho das convenções internacionais sobre genocídio, e o estabelecimento das Nações Unidas.
O dia 27 de janeiro fica assim reconhecido de forma oficial como um dia de recordação das vítimas do Holocausto em vários países, entre os quais se incluem o Reino Unido, Itália e Alemanha, porque se trata do dia em que um avanço do Exército soviético libertou o maior dos campos nazistas, o de Auschwitz-Birkenau, na Polônia. “Como a geração de sobreviventes e libertadores do Holocausto está se reduzindo, a lembrança diminui, e a educação deve seguir adiante”, declarou Gillerman.
A resolução foi aprovada por aclamação depois de dois dias de pronunciamentos,
O Holocausto era quase totalmente ignorado até janeiro passado, quando o órgão realizou uma sessão para celebrar a libertação pela Rússia, 60 anos atrás, do campo de concentração de Auschwitz. No total, 104 países do mundo todo patrocinaram a nova resolução. A exceção foram os países do Oriente Médio. Várias nações islâmicas, entre as quais o Egito, a Indonésia e a Malásia, disseram ser favoráveis à resolução, mas acrescentaram que as atrocidades cometidas contra os cristãos e os muçulmanos deveriam receber uma atenção equivalente.
O embaixador da Jordânia junto à ONU, príncipe Zeid al-Hussein, classificou o Holocausto de “o crime de maiores proporções” realizado em solo europeu, por europeus e contra europeus. Mas, segundo o príncipe, o episódio não deveria ser usado como justificativa moral para a “dominação continuada de um povo sobre outro”, uma referência clara a Israel e aos palestinos.
A resolução, proposta inicialmente pelos EUA, Israel, Rússia, Austrália e Canadá, rejeita qualquer tentativa de negar o Holocausto.
O embaixador alemão junto à ONU, Gunter Pleuger, chamou o Holocausto de o “capítulo mais negro da história da Alemanha”.
Questões para refletir
Charles Krauthammer *
Quando algo ocorre pela primeira vez em 1.871 anos, vale a pena registrá-lo. Em 70 a.e.c e de novo em 135, o império romano sufocou brutalmente as revoltas da Judéia, destruindo Jerusalém, matando centenas de milhares de judeus e enviando centenas de milhares mais à escravidão e ao exílio. Durante quase dois milênios, os judeus vagaram pelo mundo. E agora, em 2006, pela primeira vez desde então, de novo existem mais judeus vivendo em Israel — o Estado sucessor da Judéia — que em nenhum outro lugar da Terra.
A população judaica de Israel acaba de ultrapassar os 5,6 milhões. A população judaica dos Estados Unidos beirava os 5,5 milhões em 1990, caiu ao redor de 5,2 milhões 10 anos depois e se encontra em acentuado declive que, por causa das baixas taxas de fertilidade e os elevados níveis de assimilação, reduzirá essa cifra à metade até meados do século.
Quando 6 milhões de judeus europeus foram exterminados no Holocausto, só restaram dois centros importantes de vida judaica: Estados Unidos e Israel. Esse sistema binário permanece até hoje, mas se acaba de alcançar um ponto delicado. A cada ano, enquanto a população judaica continua crescendo em Israel e declinando na América (e no resto da Diáspora), Israel se torna cada vez mais, como no tempo de Jesus, no centro do mundo judaico.
Uma restauração épica é a mais improvável. Para lembrar somente uma conquista destacada no retorno: o hebraico é a única língua “morta” da história da que se tem notícia que foi devolvida à vida cotidiana como linguagem viva de uma nação. Mas existe um preço, e um perigo nesta transformação. Altera radicalmente as perspectivas da sobrevivência judaica.
Durante 2000 anos, os judeus encontraram proteção na Dispersão — não proteção às comunidades individuais, que eram rotineiramente perseguidas e massacradas, porém, proteção ao povo judeu em conjunto. Dizimados aqui, po­diam sobreviver ali. Podiam ser perseguidos na Espanha e encontrar refúgio em Constantinopla. Podiam ser massacrados no Reno durante as Cruzadas ou na Ucrânia durante a Insurreição de Chmielnytsky de 1648-49 e sobreviver ainda assim no resto da Europa.
Hitler pôs fim a essa ilusão. Demonstrou que o antissemitismo moderno casado com a tecnologia moderna — linhas ferroviárias, burocra­cias disciplinadas, câmaras de gás que matam com eficácia industrial — podia juntar um povo disperso e “concentrá-lo” para a aniquilação.
O estabelecimento de Israel foi uma declaração judaica a esse mundo que permitiu que o Holocausto tivesse lugar — depois que Hitler deixou claro perfeitamente suas intenções — de que os judeus recorriam daí em ­diante à autoproteção e à autodependência. E assim, construindo um exército judeu, o primeiro em 2000 anos, prevaleceram em três grandes guerras de sobrevivência (1948-49, 1967 e 1973).
Mas numa cruel ironia histórica, fazê-lo exigiu concentração — colocar todos os ovos no mesmo cesto, um pequeno território estendido junto ao Mediterrâneo, com 12,7 quilômetros de largura em seu ponto médio. Um alvo tentador para aqueles que finalizariam o trabalho de Hitler.
Seus sucessores vivem hoje em Teerã. O mundo prestou enorme atenção à declaração do presidente Mahmoud Ahmadinejad de que Israel tem que ser destruído. Prestou-se menos atenção aos pronunciamentos dos líderes iranianos sobre como Israel será “eliminado mediante uma tormenta”, como prometeu Ahmadinejad.
O ex-presidente Ali Akhbar Hashemi Rafsanjani, o presumido moderado desse bando criminoso, explicou que “o uso de uma bomba nuclear em Israel não deixará nada sobre o terreno, enquanto que só prejudicaria algo no mundo do Islã”. A lógica é impecável, a intenção clara: um ataque nuclear destruiria na prática o pequeno Israel, enquanto que qualquer resposta lançada por um Israel moribundo não teria um efeito importante sobre uma civilização islâmica de um bilhão de pessoas que se estende da Mauritânia à Indonésia.
Enquanto se lança à corrida para obter armas nucleares, o Irã deixa claro que se tiver problemas, os judeus serão os primeiros a sofrer. “Anunciamos que aonde quer [no Irã] que a América cometa qualquer equívoco, o primeiro lugar para o qual apontaremos será Israel”, dizia o general Mohammed Ebrahim Dehghani, um importante comandante da Guarda Revolucionária. Hitler apenas foi ligeiramente mais direto ao anunciar sete meses antes de invadir a Polônia que, se houvesse outra guerra, “o resultado será… a liquidação da raça judaica na Europa”.
Semanas atrás, Bernard Lewis, o decano dos estudos islâmicos da América, que acaba de cumprir 90 anos e que recorda bem o século 20, confessou que pela primeira vez se sente de novo em 1938. Não precisou acrescentar que em 1938, ante a iminente tormenta — um inimigo do Ocidente agressivo e fanático abertamente declarado e completamente determinado contra os judeus — o mundo não fez nada.
Quando nos próximos anos os mulás do Irã adquirirem seus desejados mísseis, a cifra de judeus em Israel terá alcançado os 6 milhões. Nunca mais?
* Charles Krauthammer é jornalista e conhecido colunista nos EUA e no Canadá. Psiquiatra, ele tem vários trabalhos e pesquisas publicadas na área acadêmica. No campo da imprensa, escreve regularmente para o jornal The Washington Post e ganhou o prêmio Pulitzer em 1987. Suas posições neoconservadoras têm aparecido em diversos veículos de imprensa e freqüentemente colabora com o noticiário da rede Fox de TV. Publicado originalmente em espanhol em El Iberoamericano.