A criação do moderno Estado de Israel

A criação do moderno Estado de Israel

 

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, a magnitude dos horrores do Holocausto passou a ser efetivamente conhecida aos olhos do mundo. Tal fato contribuiu decisivamente para a resolução da questão da partilha da Palestina entre árabes e judeus.

Os britânicos, que até então eram mandatários na região, tentaram alcançar um acordo entre as duas comunidades. No entanto, ainstransigência da liderança árabe, que era contrária à divisão da Palestina, garantiu o fracasso das negociações. Assim, em fevereiro de 1947, os britânicos passaram as negociações para as mãos das Nações Unidas.

Como um primeiro passo, a ONU criou a Comissão Especial para a Palestina (UNSCOP) para trabalhar em cima de uma solução. Emissários e delegados de 11 nações foram para a região e descobriram o que há muito tempo era evidente: as aspirações nacionais de árabes e judeus não poderiam ser conciliadas.

O jornal London Times, em publicação de 1o de dezembro de 1947, relatou que os ânimos das duas populações, árabes e judeus palestinos, eram flagrantemente contrastantes. “Os judeus faziam questão de deixar claro que estavam imbuídos de um senso de justiça e se preparavam, inclusive, para pleitear seus direitos diante de um tribunal internacional imparcial, enquanto que a população árabe não esboçava confiança na sua causa, ou aparentava temer uma eventual decisão das nações”.

Quando retornaram, os delegados de sete nações -Canadá, Tchecoslováquia, Guatemala, Holanda, Peru, Suécia e Uruguai – recomendaram a criação de dois estados separados: um judeu e um árabe. Além disso, esses delegados recomendaram a criação de uma união econômica entre os estados, sendo que Jerusalém se tornaria um enclave internacionalizado. Por outro lado, três nações -Índia, Irã e Iugoslávia -recomendaram um estado único, formado por províncias árabes e judaicas. A Austrália se absteve.

Os judeus da Palestina não ficaram satisfeitos com as recomendações da Comissão. Primeiro porque o território a eles destinado era consideravelmente pequeno; segundo, porque Jerusalém ficaria num território a parte, não contíguo ao território destinado aos judeus. Apesar disso, a comunidade judaica aproveitou a oportunidade e aceitou as recomendações da Comissão.

Os árabes, por seu turno, tiveram sua exigência de um estado unitário árabe recusada pelo Comitê ad hocestabelecido pela Assembleia Geral da ONU. As recomendações da Comissão Especial para a Palestina foram posteriormente adotadas por 33 votos a favor, 13 contra e 10 abstenções, em 29 de novembro 1947, por meio da Resolução 181 da Assembleia Geral. Esta reunião da ONU foi presidida pelo brasileiro Oswaldo Aranha.

 

A declaração de independência

 

As reivindicações da Palestina, tanto por árabes, quanto judeus, apesar de válidas, eram irreconciliáveis. Assim, ao optar pela partilha da Palestina, a ONU fazia valer, ainda que de forma indireta, o direito de autodeterminação tanto de árabes-palestinos quanto de judeus-palestinos. A partilha alocou as regiões de maioria de cada um dos povos para o estabelecimento de seus respectivos lares nacionais.

Às 16 horas, do dia 14 de maio de 1948, a população judaica da Palestina ouvia a cerimônia de proclamação da independência a partir do Museu de Tel Aviv. David Ben-Gurion leu a Declaração de Independência do Estado de Israel.

“Nela [na proclamação] se notificava ao mundo que a Terra de Israel era o lugar histórico do nascimento do povo judeu, que o movimento sionista era testemunha do papel que a Palestina desempenhara na história e religião judaicas, que a Declaração Balfour, a resolução de partilha das Nações Unidas, o sacrifício dos pioneiros sionistas, e os tormentos sofridos por judeus em anos recentes –tudo lançará as bases morais e legais do novo estado. Anunciava que Israel estaria aberto a todos os judeus que ali desejassem entrar, estenderia igualdade social e política a todos os seus cidadãos sem distinção de religião, raça ou sexo, e garantia a todos liberdade de religião, consciência, educação e cultura.” (SACHAR, Howard M. História de Israel vols. 1 e 2. Rio de Janeiro: Ed. Sêfer, 1976)

 

 

Assim, mesmo na iminência do ataque árabe, a declaração afirmava que o recém-criado estado estendia a mão de paz e boa vizinhança a todos os estados vizinhos e fazia um convite à cooperação para o progresso da região do Oriente Médio.

Menos de 24 horas depois, os exércitos regulares do Egito, Jordânia, Síria, Líbano e Iraque invadiram o país, forçando Israela defender a soberania que acabara de reconquistar em sua pátria ancestral.

A Guerra da Independência de 1948

 

A guerra foi iniciada a partir da recusa árabe em aceitar a Resolução 181 da ONU, que determinou a partilha da região entre árabes e judeus. O conflito teve início com a invasão do território onde se assentava o antigo Mandato Britânico, por parte de cinco nações árabes – Egito, Iraque, Líbano, Jordânia e Síria. O confronto armado foi finalizado com o Armistício de Rodes, de 1949. No entanto, não colocou um termo às conturbadas relações entre Israel e seus vizinhos.

O armistício de Rodes tinha como seu fundamento as linhas militares vigentes. Assim, o acordo estabelecia que o Negev continuaria em Israel com exceção da faixa costeira de Gaza, ocupada pelo Egito; que o exército sírio deveria se retirar do norte de Israel para sua fronteira original, sem que suas tropas fossem substituídas por efetivos israelenses, criando-se, assim, uma zona desmilitarizada e que, no tocante à margem ocidental, a linha de demarcação seria traçada alguns quilômetros a leste, em favor de Israel, isto, em parte, devido a negociações anteriores entre israelenses e jordanianos. A região de Jerusalém seria mantida da forma como estava; a Cidade Nova ficaria nas mãos dos judeus e a Cidade Velha nas mãos dos árabes.

Com o fim da guerra, Israel concentrou seus esforços na construção do Estado pelo qual o povo tinha lutado tão longa e arduamente. O primeiro Knesset (parlamento) de 120 assentos entrou em funcionamento após as eleições nacionais (25 de janeiro de 1949), com a participação de quase 85% dos eleitores. Duas figuras que haviam conduzido Israel à independência tornaram-se os líderes do país: David Ben Gurion, presidente da Agência Judaica, foi eleito Primeiro-Ministro; e Chaim Weizmann ,presidente da Organização Sionista Mundial, foi o primeiro Presidente eleito pelo Knesset.

 

 Linhas do Armistício de Rodes

 

A Consolidação do moderno Estado de Israel

 

O Estado de Israel enfrentou inúmeras dificuldades nos estágios iniciais de sua consolidação. No plano doméstico, três obstáculos representavam entraves para o crescimento e a segurança do recém-criado estado: a necessidade de alocação e absorção das contínuas levas de refugiados judeus provenientes da Europa e, principalmente, das nações islâmicas; a questão da dinâmica das políticas do governo judeu para com a “nova” minoria árabe e os ajustes econômicos emergenciais para a retomada da ascendência econômica.

Intimamente ligados a estes últimos, dois outros desafios emergentes do plano internacional, representavam, igualmente, tremendo desafio para o pequeno estado judeu: a necessidade de capital estrangeiro para financiar a débil economia israelense do pós-guerra e a profunda hostilidade das nações árabes que redundariam em duas grandes guerras (a Guerra de Suez, em 1954 e a Guerra dos Seis Dias, em 1967) nos próximos 20 anos.

Com a criação do Estado de Israel, uma das prioridades do gabinete político, chefiado por Ben-Gurion, foi o esvaziamento dos campos de refugiados da Alemanha, da Áustria e da Itália. Porém, durante a década de 1950 até o início da década de 1960, um novo e numeroso grupo deemigrados judeus passou a buscar a terra de Israel como refúgio. O número de judeus que viviam em países islâmicos em 1939 chegava a 1.700.000. Seu êxodo das terras islâmicas foi influenciado, principalmente, devido ao incremento dos ataques desfechados contra suas comunidades exacerbados por ocasião daquestão Palestina.

Até a Segunda Guerra Mundial, no período do Ishuv, os judeus europeus representavam 77% do total da população. Entretanto, tais números iriam mudar nas décadas seguintes. Judeus provenientes de diversas regiões do Oriente Médio e do Norte da África passaram a pleitear por seu direito de retorno à Terra Santa. Entre as décadas de 1950 e de 1960, o número de refugiados judeus provenientes das nações islâmicas assentados em Israel chegaria à casa de 700 mil.

Este choque de absorção representou um grande ônus para o Estado de Israel. Os refugiados judeus provenientes das nações islâmicas, principalmente das nações árabes, não receberam nenhum tipo de indenização por parte das nações que os perseguiam. Muito pelo contrário, na grande maioria das vezes não podiam levar mais do que a roupa do corpo e o que pudessem carregar prontamente. Grande parte destes imigrantes, assim que chegavam, apossavam-se das propriedades árabes abandonadas em Haifa, Jerusalém e Jafa, em Safed, Ramleh e Lida e outras cidades e aldeias.

No início essa massa de refugiados representou um grande fardo a ser carregado pela população israelense como um todo, apesardos esforços de judeus do mundo inteiro no auxílio aos campos de recepção, entretanto, com muito esforço, estas pessoas foram aos poucos inseridas na sociedade aumentando os conglomerados habitacionais metropolitanos e rurais e incrementando a economia do Estado de Israel.

A “nova” minoria árabe de Israel

 

Após a guerra de 1948, cerca de 156.000 árabes acabaram por permanecer em Israel. Além de centenas de aldeias exclusivamente habitadas por eles, a população árabe viveria ao lado dos judeus em outras cinco cidades dentro do território israelense: Acre, Haifa, Jafa, Ramlehe Jerusalém.

Apesar da animosidade entre as duas populações, os árabes passaram a ter direitos de votar e serem eleitos para a Knesset (Parlamento de Israel), da mesma forma como os judeus. Também passaram a poder organizar e filiarem-se a partidos políticos, discutir e criticar as posições e políticas governamentais, publicar impressos e jornais, enviar seus filhos para escolas de ensino em árabe, ter acesso aos serviços públicos do Estado e aos tribunais de Israel. Ainda, com relação ao serviço militar, os árabes foram dispensados da lei compulsória.

Sob a administração israelense, pela primeira vez todas as cidades e aldeias árabes passaram a possuir escolas. O número de alunos saltou de 10.000, em 1948, para 26.500, em 1956, mesmo diante da retração populacional árabe. O hebraico passou a ser ensinado como segunda língua a esta população que teve assegurado, pelo Ministério da Educação, o direito de uso do árabe como língua vernácula entre as instituições acadêmicas árabes. A população árabe também se adaptou ao sistema representativo israelense de forma muito ágil. O eleitor árabe comparecia mais às urnas do que o judeu.Em 1949, 79,3% dos eleitores árabes votaram efetivamente.

A consolidação econômica e social

 

A inflação contida, a crescente produção industrial e o incremento nas atividades exportadoras, que trouxe equilíbrio à balança comercial,foram fatores que mitigaram as anomalias sociais provocadas pelo incrível e súbito influxo de refugiados e imigrantes, que aos poucos se integrava ao complexo mosaico étnico israelense. Além disso, os problemas provenientes da minoria árabe, que freqüentemente oferecia constrangimentos aos ideais pluralistas e democráticos do Estado de Israel, foram igualmente aos poucos mitigados e, em muitos casos, solucionados.

O estabelecimento econômico do Estado de Israel e, como conseqüência, sua consolidação como nação independente no seio da comunidade internacional se deu através da solução de diversos desafios de ordem econômica, dentre os quais, a capitação de recursos estrangeiros se mostrou o mais significativo.

Além da consolidação da economia, a vida social apresentava melhoras. A autodeterminação do povo de Israel, agora no âmbito de suas fronteiras, perfazia-se em realidade. Em 1960, todos os bolsões de ma’abarot(campos de refugiados), com exceção dos menores, já tinham sido erradicados das zonas rurais. Raras favelas isoladas serviam para lembrar o período da imigração acelerada pelo qual a nação havia passado.

O país havia, com sucesso, assentado os milhões de imigrantes em seu interior dos quais a maioria compunha-se de refugiados. No início da década de 1960 a população de Israel era de quase 2 milhões de habitantes. O historiador Sachar aponta que densos cinturões de cidades e vilarejos cresciam por todo o Corredor de Jerusalém e pelas planícies do litoral, por toda a Galiléia e até pelo nordeste do Negev. A maior parte da população israelense, neste período, encontrava-se empregada e possuía sua casa própria.

Entretanto, o avanço da consolidação do Estado de Israel trouxe fortes repercurssões na região do Oriente Médio. O reflexo disto se dava tanto no plano diplomático com os países vizinhos, quanto no nível do conflito armado que permearia as relações entre israelenses e árabes nas décadas seguintes através de grandes conflitos armados, trazendo grande instabilidade às nações da região e para o livre e pacífico exercício da autodeterminação judaica em suas fronteiras.


 

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O Sionismo

Sionismo

Sionismo é a ideologia que visa a emancipação política do povo judeu através do estabelecimento de um Estado nacional judaicona Palestina, por meio de ações diplomáticas e dentro das leis, objetivando o reconhecimento internacional para a causa.
Assim, a palavra sionismo deriva do termo Sião (do hebraico Tzion “ ”) que se refere ao nome de um monte localizado em Jerusalém, o “Har Tzion”. Este elevado geológico situa-se ao sul da atual Cidade Velha de Jerusalém. Com o tempo, os judeus passaram a utilizar o termo como um sinônimo para se referir à cidade inteira de Jerusalém e mesmo à terra de Israel como um todo.
O ideal de retorno à terra de Israel, na Palestina, sempre esteve presente nas diversas gerações da diáspora. Inclusive os próprios judeus palestinos, através do Ishuv(do hebraico: assentamento. Eram as aglomerações populacionais de maioria judaica na Palestina pré Israel), sempre trabalharam a terra local visando um eventual futuro político judaico na região. Apesar de séculos e séculos longe de Sião, os judeus do mundo inteiro cultivavam o desejo de algum dia poder se re-assentar na região e não apenas isto, mas restabelecer um Estado judaico na antiga terra de Israel.
Le Shana habá b’Yerushalaim, o hebraico transliterado significa: “No ano que vem, em Jerusalém”. A expressão é utilizada por centenas de anos pelos judeus de todo o mundo durante as celebrações da Páscoa judaica (Pêssach), exprimindo, assim, o ardente desejo de algum dia voltar àsua terra ancestral. Esta expressão, mais do que um mero desejo depositado na maioria das almas judaicas, representa também a concepção espiritual do movimento sionista que tomou forma política na segunda metade do século XIX na Europa.
Um dos primeiros ideólogos e o pioneiro ativista deste movimento foi o jornalista e escritor judeu-húngaro Theodor Herzl.